6.1.13

sobre o nome III

derramado:
o tempo de escorrer
tanto sangue-champanhe
é mais demorado na terra
dos que não usam relógio

boca numa boca
que nunca ali esteve
não com a intensidade
mortificada
daquela que de tão ela
assusta-se sozinha

boca numa boca
que um dia esteve
tão natualmente
aberta
escancarada
de rabo e dentes descobertos
e, teme-se, na mesma intensidade
daquela que escondia o gênero
dele: vestia-se

boca numa boca
que talvez não estivesse colada no rosto
lutara enquanto o caos sexual invadia
narinas, pernas, útero, coração:
coração
dela
que sabe, o último suspiro de gozo
é a morte

e agoniza.

Um comentário:

  1. "Se cada segundo de nossa vida deve se repetir um número infinito de vezes, estamos pregados na eternidade como Cristo na cruz. Que idéia atroz! No mundo do eterno retorno, cada gesto carrega o peso de uma insustentável leveza. Isso fazia com que Nietzsche dissesse que a idéia do eterno retorno é o mais pesado dos fardos (“das schwerste Gewicht”).

    Se o eterno retorno é o mais pesado dos fardos, nossas vidas, sobre esse pano de fundo, podem aparecer em toda a sua esplêndida leveza.

    Mas, na verdade, será atroz o peso e bela a leveza?

    O mais pesado fardo nos esmaga, nos faz dobrar sob ele, nos esmaga contra o chão. Na poesia amorosa de todos os séculos, porém, a mulher deseja receber o peso do corpo masculino. O fardo mais pesado é, portanto, ao mesmo tempo, a imagem da mais intensa realização vital. Quando mais pesado o fardo, mais próxima da terra está nossa vida, e mais ela é real e verdadeira.

    Por outro lado, a ausência total de fardo faz com que o ser humano se torne mais leve do que o ar, que ele voe, se distancie da terra, do ser terrestre, faz com que ele se torne semi-real, que seus movimentos sejam tão livres quanto insignificantes.

    Então, o que escolher? O peso ou a leveza?

    Foi a pergunta que Parmênides fez a si mesmo no século VI a.C. Segundo ele, o universo está dividido em duplas de contrários: a luz e a obscuridade, o grosso e o fino, o quente e o frio, o ser e o não-ser. Ele considerava que um dos pólos da contradição é positivo (o claro, o quente, o fino, o ser), o outro, negativo. Essa divisão em pólos positivo e negativo pode nos parecer de um primarismo pueril. Menos em um dos casos: o que é positivo, o peso ou a leveza?

    Parmênides respondia: o leve é positivo, o pesado, negativo. Teria ou não razão? Essa é a questão. Uma coisa é certa. A contradição pesado-leve é a mais misteriosa e a mais ambígua de todas as contradições."

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