16.1.19

quero comer o lápis a folha e a poesia
pular por cima da alma
ferir minha auto estima
com inveja da primazia

quero ser grande como o ponto
único máximo onde se pode chegar
de horizonte a horizonte buscar
diminuindo a distância do canto

a agonia me beijando a boca do estômago
sentimento canibal de quem reclama
das dúvidas de quem diz que ama
ciúmes um índio antropófago

deixar levar pela correnteza do rio
andar por onde andam todos
não deixar de entrar pelos esgotos
sair pelo bueiro e encontrar o meio-fio

a visão do cinza não incomoda
avisar a brisa que venha
definir com ciência o sentido da revolta
conseguir se libertar sem precisar de senha

engomar uma calça
rir da própria desgraça
satirizar a vida
quando de descanso imitar a lida

2 comentários:

  1. quero beber a letra a tinta e a forma
    dançar um rito profano
    arrancar minha entranha que destroça
    um único laço cigano

    quero voar como asas de pegaso
    a verdade pura do conto
    dedilhando no azul do acaso
    cortando em partes: um ponto

    a leveza dissecando o corpo
    em carne viva de tanto gozar
    na paz do animal morto
    um suspiro último pulsar

    levitar entre nuvens pesadas
    sentir o vento do norte
    lançar-se inteira à sorte
    por Silfos ser extasiada

    escorrer pelo magma das pernas
    o gelo do grelo duro
    explodir em noites eternas
    os cacos do pássaro prematuro

    lixar a unha comprida
    e descascar a ferida
    sorrir à própria vida
    quando ela lhe parecer fodida

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