30.11.12

deleite, a um doce

e morar embaixo de seus cabelos
e respirar teu aroma róseo
e acariciar tua pele de suaves notas musicais
e beijar tua boca ausente
e tatear teu sentimento
e abraçar teus ares de quem não está lá
e trazer teu espírito pra dentro do meu corpo
e enfincar-me sob sua carne
e arrancar minha pele para pô-la no teu coração



e teu coração.
meu coração.



se eu morrer não chore não.

o roubo da música que, nunca, fora minha. minhas desculpas.

29.11.12

as máquinas não possuem alma (uma experiência com butoh)

Anda pela metrópole, passo após passo, sempre um pé após o outro, os braços balançam suavemente como pêndulos sincronizados, o olhar segue fixo numa diagonal decrescente e as respostas são sempre as mesmas, pois as perguntas se repetem incansávelmente.Reparou, um dia reparou no funcionamento das coisas, pôde perceber as engrenagens de uma escada rolante, o eixo movendo as rodas dos automóveis, o cartucho de tinta deslizando sobre uma barra de ferro pra lá e pra cá, as rodas de borracha cuspindo sulfites cheias de tonner numa copiadora, o scanner emando uma luz que se movia verticalmente, o botão afundando sempre que pressionado, os cabos de aço do elevador e suas polias que dividem as forças necessárias para elevar determinada massa ou desacelerar a gravidade, percebeu o concreto estável em equilibrio com sua composição de areia, brita e cimento, o ventilador estava ali rodando e para isso precisava de uma bobina de cobre que transfoma energia elétrica em energia cinética, associou o ventilador aos aviões com suas turbinas, que via pelas veredas do céu, acima dos telhados as antenas receptoras de ondas eletromagnéticas que passeiam pela ionosfera, e o mecanismo das perssianas e como cordena seus movimentos através de duas cordas, uma faz o movimento de rotação e a outra desliza as perssianas horizontalmente, para que um horizonte de pedras se fizesse presente no seu campo de visão e como que por uma certa piedade lhe emprestava um pedaço de céu.
Passou então a reparar em seu próprio corpo, se viu cheio de engrenagens, bobinas, cordas controladoras, polias, aço, cimento, areia, brita, como afundava sempre que pressionado, os seus movimentos relacionados à estas características, horizontal, vertical, rotação, senta, levanta, anda, senta, levanta, anda, anda, deita, levanta, senta, anda, deita, horizontal, vertical, pra cima, pra baixo, como n`A Metamorfose, acordou de sonhos intranquilos e havia se tornado máquina, balançou a cabeça para negar, percebeu que continuava máquina, pois a negação o fez mover a cabeça numa rotação, o eixo-pescoço, o comando-negação, corpo-máquina. Irritou-se e decidiu pensar então nas suas relações sociais e mais uma vez supreendeu-se, viu o abraço, o beijo, o sexo, o dialogo, o grito, a porrada, todos precisavam de comandos, engrenagens, cimento, bobinas e etc.Toda relação que tinha possuia estrutura, qualquer máquina possui estrutura, pensou nos movimentos políticos todos cordas, engrenagens, bobinas, roldanas, ali, interagindo como engrenagens, bobinas,roldanas para o perfeito funcionamento da máquina.

neste dia passou a saber com todo seu ceticismo o que não era alma.