12.5.16

lições de economia para um pedaço de plástico

no reino das garrafas pet a economia anda balançada
dizem que vai faltar plástico, que vai faltar líquido
que garrafa rosa não pode governar
porque tem pigmentação não muito boa

no reino das garrafas pet a economia vai mal
dizem que a indústria de polímeros vai ser privatizada
pelo reino das latinhas de alumínio
mas o reino das latinhas de alumínio gosta das pets
embora não se veja pets no reino zanzando por aí

no reino das garrafas pet a economia decresce
dizem que não somos sustentáveis nem versáteis
ousam até a botar garrafas coloridas
no meio das fileiras principais
mas não era só uma prateleira horizontal?

no reino das garrafas pet a economia quebrou
não tem o que fazer, falta até tampa e lacre!
não se tem nem o trabalho de reutilizar
para botar o amaciante da dona Maroca
nem pra fazer telefone sem fio
nem pra artesanato se faz
de garrafa pet

no reino das garrafas pet a economia mudou
dizem que agora tem coca-cola pra botar
até fecharam a vácuo pra proteger bem
afinal, somos inanimadas garrafas pet
e precisamos de sustança de levar
pra suportar
pra coroar

no reino das garrafas pet a economia se fez
sobe gira pinga transborda exporta importa
afinal garrafa pet se faz de número e tetra
polietileno polivinilico e tereftalato
garrafa não tem peito tem PIB
pet queima recicla troca
joga fora

no reino das garrafas pet a economia ergueu
bilhões de pedaços fracionados
de qualquer coisa
que não precisa
de vida.

27.4.16

as pernas da cadeira - parte II

rola desembola fenda abaixo corta vira, tudo bem? sorri
tropeça ladeira desce porto geral corre esbarra vence? caí
esbraveja sangra bota mão na coxa estanca espanca? marginal
soco na boca pau pra fora multidão centro sujo gritaria? tropical
ninguém pega mulher só anda de cabrobró a prumirim não presta? festa
acende puxa pega delícia tu gosta poderosa desemboca na sé? fugi
passo perna sem BO gambé não quer chuva do nada e sol? abri
olhar se encontra uma perna um ombro outra do clã? juntou
cabelo unha batom mistura afunda ergue pra tombar? formou
res-pi-ra
face peita toma esfola
cola corta tira
falo falo?
pinga
(do)
cai

porra termina escola celebra busca o quê? sei lá
camelô pente um real fruta transgênico pinico
sede suo absorvo a última dose da garrafinha
azul da torneira que reflete o Sol da fresta
enfrenta adentra concentra isenta INOCENTA

e tá Raparae
tá tinindo
tá trincando
ainda há sim
há tanto
há muito
há gente
a gente.

2.4.16

traga-me água

sede
de fluxo intenso
de terra molhada
de cheiro de chuva
de planta que quer brotar
de coração irrigado
de céu carregado de nuvem escura
e pesada
e desaba
e lava lava lava

sede
de beber rodopiar embebedar
de rio que encontra lago
que desencontra mar
que volta nascente
que até tem bolinha que pinica o nariz!

sede
de correr março
de pingar Carnaval
de pular ondina criança
de dar água na boca
(cala bok e mim bja)
de cachoeiras de mainha Oxum
dum mar de manhosa Iemanjá Odoyá
de tanta água que não da pé
de beira de rio doce nus
de ser só pele brilhante luz e aguada
de ser bruta flor que desabrocha orvalhada