18.12.14

Reumatismo

Desde pequeno sentia uma pontada no coração.
 
Com dôres no apêndice,
tratou com anti-inflamatórios, inibidores do sistema nervoso central,
Acabou por não sentir mais dor, pelo que desenvolveu

SÍNDROME ENCEFÁLICA DE MYNHER

A que foi tratada, pos sua vez, com halopáticos poderosos,
anti-coagulantes cerebrais, reguladores de pressãoarterial cerebral

Foi aí que notou que a pontada  no coração começou a ficar insuportável

dessa aí, não teve jeito,
chamou o Dr. Krossemfiber, maior especialista da extinta Ioguslávia, médico particular do Yosorlav Milosevic, que fritava as pessoas na África, aclamado com o célebre prêmio "Bistúri de Ouro".

mas nada constatou.

nem mesmo Carly McCalyster, famoso psiquiátra autríaco pode diagnosticar tão simples e complicado sintoma.

e daí? 

daí  morreu.

(sua morte se deu por complicações no sistema gastrointestinal, efeito pós-operatório de uma cirúrgia para tratar problemas relacionados ao nervo ciático, mas aquela dor no coração, ninguém, niguémzinho mesmo até hoje sabe do que se tratava)

14.12.14

seria 'meu rei', mas sou anarquista

sinto teu cheiro chegando com o vento da manhã
sinto a brisa de Itapuã no sussurro enforcado do asfalto da avenida São João
sinto teu riso no acorde frouxo do meu violão desafinado
sinto tuas mãos na trombada de um paulista apressado pro trabalho
sinto forró aqui, entre tantos Silvas, comendo arrumadinho com farofa
sinto teu gosto na pimenta que nunca arde tanto quanto meu peito inflamado
sinto teu sotaque nas minhas linhas tortas, passos tortos, olhares tortos
sinto você dentro, não fora
como se a cada naco de vida tivesse dendê
a cada lufada de ar houvesse tua pele contra a minha
e é sempre fevereiro.

2.12.14

os sonhos eróticos que me condenam


com os olhos parados observara o padrão do monolito
as luzes amarelas que vem 
as vermelhas vão
a auto afirmação precisa de motores a gasolina
o prédio precisa de dinheiro
quem apagou o cigarro quem poderia ceder
a fumaça de oleo diesel e as pessoas com cortes de cabelo esquisito

precisava sair precisava entender e entendeu
pois a sua frente de repente dois olhos uma janela
um corpo um portal
para a paz de qualquer coisa diferente 
o nascer e o deitar do sol
a linha do horizonte onde o céu beija o mar 
tudo poderia encontrar num corpo de vontade própria
os fluxos de consciencia se entrelaçaram num deserto e esperaram encontrar as rochas da solidão em anos-luz 

precisava de um toque um tato um leve roçar
e estava fora deste e de outros universos 
que seu subconsciente criou na madrugada adiante
os músculos gritaram durante horas 
o ácido fora de hora na barriga o trouxe de volta
para querer guardar todas as lembranças que virão no futuro de seu mundo ideal

II

ah minha cabeça como pode ser tão desleal
porque pensa o que eu não quero pensar
e me leva onde não estou
e me acalenta com braços invísiveis

um parque e os tons de verde me devorando
onde eu me entrego d'alma e assobio
e se fossem um
e se fossem os dois
das pedras que carrego dentro de outra pedra
posso sentir as coxas
e o que vou deixar de um encontro para o mundo
o que deixei 


III

se fosse um buarque
teria métrica
se fosse um cabral 
seria etnocida e decassílabo
se fosse moraes
seriamos três
se fosse você
se fosse você
seria eu&eu

3.10.14

A Matriz


onde os corpos são máquinas
e a mente o Houdini

a camisa de força está posta
tente escapismo
o amor apenas uma palavra
a chance mero custo
causa é só efeito
tudo que toca cheira vê ou sente é controle

os bebês violentados
as línguas só dizem não
sexo é corpo
corpo é máquina
amor é palavra
sexo é palavra
máquina é sexo
corpo é custo
chance é efeito
tudo é controle

e o que me dizem?
conhece-te a ti mesmo
máquina
palavra
controle

a mente cria novas armadilhas
cada vez mais difíceis
sair
vamos sair?
palavra
máquina
controle
vamos sair?
máquina
palavra
controle
vamos sair?
corpo-máquina
chance-custo
amor-palavra
vamos sair?

24.9.14

as pernas da cadeira

Cruzo cruzamentos ruas cruzes cemitérios vivos e mortos arrasto passo escondo e pulo
batidas estupros leis reintegração sem posse tosse poder escorre dilui sem água
arranca descama frita corre acerta anula toma arranha manha puta mini-saia
assalta treme expulsa desnuda se vira ali na ponte esfola cede sede
luta alguém ninguém sem rosto sem olhos sem beat, onde?
re-s-piro
caos social marginal ancestral visceral
(janela)
lateral-co
efeito

foda-se o escracho despacho escasso fardados e mutilados
prédios arranha-céus casa falos concreto indiscreto decrépito
ainda miro a fresta do único ponto em que o Sol entra
enfrenta adentra concentra isenta INOCENTA

e tá Raparae
tá tinindo
tá trincando
ainda há sim
há tanto
há muito
há gente
a gente.

10.9.14

Episótemo #766


Foi na estação do metrô Butantã que Estela não pode deixar de observar: um grupo de mais ou menos 40 loiros e loiras com camisetas azul marinho contendo as siglas SGH. Seus integrantes discutiam sabe-se la o que, com seus 1,95 de altura, shorts acima do joelho e Iphones na mão.

Ela ficou chocada com a situação, pareciam alienígenas que acabaram de descer em um planeta de terceiro mundo. Quando passou por perto constatou: o sotaque era alemão, talvez austríacos. Vai saber!

Os Sschoeling Gasnrtrundjovenhageenjurt Habbsburgh (Grupo da Juventude Protestante NeoPentecostal Solidária de Habsburgo), como assim ela os denominou mentalmente, estavam atônitos olhando para o fim do corredor. Seus olhos perseguiam alguma coisa interessante que vinha em sua direção.

Ao passar pelo bloqueio do metrô percebeu a quem os jovens arianos de pelos genitais da cor da palha vislumbravam sem nenhuma vergonha ou disfarce: Uma linda e voluptuosa mulher negra, com um manto manchado da cor marrom-bege, que lhe descia e cobria seu corpo todo, sem deixar-lhe de dar belas formas, Seu corpo bem dotado em todos os aspectos que dançava como ondas no mar naquele vestido, passou por entre eles, que por sua vez acompanhavam a gracejosa figura com olhares atônitos.

Para Estela, essa cena resumia muito bem quem somos e aonde estamos.

Teve vontade de chorar.

3.9.14

Jet Lagged

Jet Lagged

Viajar para que e para onde,
se a gente se torna mais infeliz
quando retorna?
Infeliz e vazio, situações
e lugares desaparecidos no ralo,
ruas e rios confundidos, muralhas, capelas,
panóplias, paisagens, quadros,
duties free shoppings...

Grande pássaro de rota internacional sugado
pelas turbinas do jato.

E ponte, funicular, teleférico, catacumbas 
do clube do vinho, sorbets, jerez, scanners,
hidrantes, magasin d'images et de signes,
seven types of ambiguity, todas as coisas
perdem as vírgulas que as separam
explode-implode um vagão lotado de conectivos
céu violeta genciana refletido
na agulha do arranha-céu de vidro

Mas ficar para que e para onde,
se não há remédio, xarope ou elixir,
se o pé não encontra chão onde pousar
embora calçado no topatudo inglês
do Dr. Martens

(Wally Salomão)



23.7.14

J.U.R

roubei um João Ubaldo uma vez de um amor que não era meu e ele nunca soube que o roubei nem que o amei
embora o coração esteja duro como a capa sem letras que cobria as páginas ainda posso sentir o cheiro peculiar da tinta prensada numa história de bicho-de-pé e coronel narrada em voz de avô

o livro ficou numa pracinha de bairro ao lado do maior amor do mundo que um dia deixei pra você

espero que tenham sido usados mais uma vez.

[cegar]

16.4.14

Um guia de visitação aos países gelados (Uma história de gelo e neve)


Nos últimos três anos, o Prof. Dr. Gerald Hyoglifido esteve em uma longa expedição aos países gelados do Atlântico Norte, onde entrou em contato com diversas culturas predominantes na região e, apesar de ter passado e viajado por diversos lugares, focou seu estudos em dois países locais: O país da neve e o país do gelo, em caráter extraordinário estão aqui trechos de seus relatos.

Expedição ao país da neve
(Prof. Dr. Gerald Hyoglifido)

 

Hoje, dia 24 de abril de 1953, eu, Gerald Hyoglifido, estou há três dias no país da neve.
O povo parece amistoso e interessante, logo quando cheguei fui abordado por dois nativos que me receberam calorosamente e me levaram para minhas acomodações. Um lugar simples e encantador.
 No meu segundo dia fui convidado para uma festa local no bar do centro da capital, instalações muito agradáveis e recepção gentil, sentei-me a uma mesa e comecei a conversar com algumas pessoas e, curiosamente, uma das coisas que eu notei é que todos iam ao banheiro com muita frequencia, creio que o consumo de diuréticos seja constante. Voltei para minhas instalações no meio da noite e acordei relativamente cedo hoje, para meu espanto, notei que muitos ainda estavam festejando no local.

Dia 30 de julho de 1953.
Faz três meses que estou aqui e a festa para qual fui quando cheguei ainda não acabou, algumas pessoas ainda estão lá.

Dia 21 de agosto de 1953.
Os nativos aqui são realmente festivos. Não me lembro de ter visto alguém dormindo por aqui, o que é deveras curioso, pois meu sono mantém-se normal. Aliás é ótimo poder compartilhar de uma festa ao acordar, voltar aos meus afazeres e voltar a esse clima festivo.

Dia 17 de setembro de 1953.
 Não aguento mais essas pessoas de ritmo acelerado, vou embora daqui o quanto antes.


Expedição ao país do gelo (ou país gelão)

 Dia 5 de janeiro de 1954.
 Depois de perambular pelas regiões gelados, resolvi chegar ao país do gelo, ou país gelão, como os nativos gostam de se referir. Desta vez não foi recebido por ninguém, mas conseguir me orientar facilmente. cheguei às minhas acomodações e fui recebido por Bertha, ou Big Bertha (Bertão) como prefere ser chamada, uma mulher de aproximadamente 40 anos e muito simpática, apesar de não ter delicadeza alguma.

Dia 29 de janeiro de 1954.
 Os hábitos daqui são muito interessantes, como o gelo é intenso, as pessoas tendem a dormir juntas, creio que seja por causa do frio incessante.

 Dia 5 de fevereiro de 1954
 A divisão do trabalho é muito interessante, como é um país com forte tráfego de produtos, a população de caminhoneiros é gigantesca, cerca de 80% das pessoas trabalham no ramo, sendo 70% homens e 75% mulheres e todos são divertidíssimos, porém bebem um pouco além da conta e gostam de fazer desafios de quem bebe mais, confesso que pedi arrego na minha vigésima dose de vodca.

Dia 20 de março de 1954
 Cerca de 90% da população aqui fuma. Como existem muitos caminhoneiros, muitos fumam cigarros paraguaios, que são mais baratos e chegam em carregamentos trazidos para consumo próprio. Curiosamente estou fumando cerca de três maços ao dia.

Dia 5 de abril de 1954
 Creio que tenha contraído algum tipo de doença pulmonar e também cirrose, talvez seja a hora de partir daqui e largar alguns hábitos que contraí aqui.


         

8.3.14

frágil [2]

o grito calado pelo beijo
o olhar (des)encontrado
tua mão no meu shimi
a pele rasgada do derbak
os pés que não acham o solo
o sufoco do ar
a pressão do ventre

o susto, num átimo, do encontro entre
olhos
bocas
línguas
corpos
almas
desesperos.

e a mão fluida entre seus cabelos
enroscam nas notas enquanto toca
pele
corda
minha perna responde cega
entre azuis e hibisco
como marionete
ao sorriso tímido entre
tum tá tssss -
aaaaaaaaah
pleno toque surdo
reto e recomeça

e quebra ao ziguezaguear de quadris
como partida ao meio
simétricas espelhadas
minhas partes se desencontram
e se liquefazem
passeiam pela acústica do ud
da rabeca
entram pela lingueta do sopro
e se esvaem no contra-tempo esperado
on
    du
lan
    do

e, de repente,




1.3.14

Episótemo #56#

    Ela, a personagem fictícia denominada Jurema possuía seios morenos da cor da terra molhada. Eram estes pra ela os guardadores da alma, o seus dois pontos mais sensíveis, protetores de toda sua essência e foi quando ele, o personagem fictício denominado Belchior fez um estranho gesto no ápice do ato sexual.
- Slrrrrrppp, hffff - Chupou com toda sua vontade o ponto localizado entre os dois seios de Jurema.
   Jurema sentiu sua alma sendo sugada e não pode deixar de curvar suas costas abruptamente, apontando o queixo aos céus, e com seus os olhos semicerrados, apertou a cabeça de Belchior fortemente contra seu ventre.
    Em seguida, ela abriu as pernas e naturalmente a cabeça deslizou para entre elas, travando-lhe um gancho entre a nuca ao dobrá-las por trás. Quando Belchior tocou com seu lábio inferior os grandes lábios de Jurema (ele já sabia o quão grande eram) ela sentiu uma estranha sensação de querer ao mesmo tempo consumir e ser consumida por aquela boca, engolir e ser engolida; uma dúvida não angustiante, mas inexplicável. Um desejo de se mover e de ficar completamente parada. Esta dualidade durante o sexo ela, com certeza, só atingira com Belchior, não mais com nenhum outro homem. Era apenas ele que lhe provocara uma dupla sensação de querer continuar freneticamente até a explosão orgástica e, ao mesmo tempo segurar aquele momento para sempre, pará-lo no tempo e prolongar aquela sensação efêmera ao máximo possível.
     
     

15.1.14

a lógica do não-pensar

palavra
penso
não
existo: co-

caio
levanto
assobio
sinto
frio
cobertor
peludo
cadê?

anos
luz
vai
vem
enfia
sussura
grita: sufocada

arremessa
agarra
diverte
chora
toca
goza
morre: alívio