23.11.13


Convicto de sua situação de desesperado, pensou novamente naquela frase:

"Para ser aquele que você nunca foi, precisa fazer coisas que você nunca fez"

E num esforço descomunal, aprendeu a andar sobre dois pés, negando toda sua existência de bilhões de anos. Criou casas, monumentos e prisões. Amou e acima e tudo odiou as pessoas e as coisas. Talvez não fosse culpa dele, provavelmente era de algo chamado livre arbítrio, que  possivelmente ele mesmo criara, mas que já não tinha mais controle algum e perdera as rédeas já há milhares de anos.

 E depois de muitos devaneios sentiu uma imensa vontade de ser quem já não era.

Colocando-se sobre os dois pés, que já sabia usar com extrema facilidade, subiu na plataforma do viaduto do chá.

De lá, atirou-se, quebrando 5 vértebras e mais 23 ossos do corpo.

Se ainda fosse uma ameba, certamente sobreviveria.

7.10.13

frágil

chiaroscuro entre sorrisos e tum tum
shime enquanto corta
inteira em vários tons
tua música, meu corpo
engalfinham-se num só compasso
contra-tempo

susto!

como poderia de novo
talvez
contudo
é.

sinuoso, lentamente

contorce
enrosca mais entre pernas
em minhas mãos
tuas mãos
batem
(baque) der-

e por que tanto

precisoirembora
borboletasnoestômago
toca

disritmia, segura a respiração

como pode soar outra melodia
em frente, degagé, fuètté
cadê?
esquivou.


a pausa da música
o silêncio
e meu couro transforma
no deslize toque tá tá
da tua madeira oriental

28.7.13

eu vim de lá pequenininho



Desculpa aí Tom Zé, eu não tenho a mesma admiração que tens pela Av. Angélica, Consolação, Ed. Itália, Paulista e adjacências. Pelo contrário, alimento um ódio, hoje, longe de minha essência, percebo que como você que sempre está em Irará, eu sempre estarei em Itaquera onde meu corpo se encontra não interessa, eu to lá, ainda cumprimentando o Adriano na padaria, a Sônia no bar, o Boi na oficina, degustando os deliciosos espetinhos do Tirulipa`s Grill, na feira de quinta aprendendo como escolher frutas, legumes e verduras com dona Tereza, ainda olho pro céu nas férias escolares procurando as pipa - "será que vem mandado?" - "vixi cortou e aparou pela rabiola" é quase o funk que se ouve cotidianamente. Ainda respeito Juninho de bíblia debaixo do braço, o respeito acima de qualquer coisa, comunidade independente de cor, sexo, gênero, religião ou posição politica, o lance é que trocamos ideias, nos ouvimos antes de nos atacarmos ou nos considerarmos superiores por um ter tido privilégio da informação e o outro não, não rola assistencialismo, te pago uma breja e te dou um pigas, porque aquele dia me recebeu em sua casa, me ofereceu um churrasco e uma cadeira, colocou seu LP raro do Tim Maia por minha causa. Onde a palavra vai além... "SALVE!" Galego, Rabisco, Marola, Dente, Fininho, sorriso samba e futebol, policia... quem deu mancada? quem foi que deu mancada? pede uma xícara de açucar na vizinha... cabou o gás empresta seu forno um minutinho, me vê um copo d'água, carai man, fala "pai", manda um abraço pros parça... amanhã a gente acerta essa fita.
Falando em fita me grava aquele seu cd do Creedence, muito loco esse som hein?! Ow mano moh cota, moh neurose esses tempo ae, tá foda mermo tá foda!

Quando seu quintal é a rua até as tantas da madruga, não interessa quão grande, gramado, arborizado e ensolarado seja seu quintal privado, ainda é privado. Propriedade tenho pra falar que os livros não ensinam nada sobre viver, viver em paz, em comunidade, em harmonia, os cu liga que pá e isso e aquilo, mas eae?!? vocês ainda tretam por maconha, por farinha, por cerveja, por dinheiro ? vocês ainda se roubam , rasteira só na capoeira e olha que depois de cair, assim que termina o piscar dos olhos de susto, a primeira coisa que vê é uma mão estendida te ajudando a levantar. Angelica,Consolação, Pinheiros, Vila Madalena, Butantã, vocês tem faculdade, vocês tem música boa, roupa, ascendência européia, olhos claros, penteados descolados, cerveja da gringa, vinho, fino trato, cheque especial, limite no cartão de crédito, assunto pra caralho, viagens para o exterior, livros considerados na academia, mas não tem VITAE.

22.7.13

6 para 1.

e se pudesse-quissesse fazer tantas linhas encharcadas de amor embebido em tanta eternidade numa fusão etérea de linhas horizontais que formam blocos de luz contornadas. tudo aqui se preenche de dentro do coração-balão em ondas magnéticas até o teclado, passando pelos dedos pintados de rosa_ChoQ, rasgando as tintas telemáticas e tornando telepatia um @, brota na tela plana as palavras. estas. Dançam delicadas e surgem molhadas somente pra dizer o que é impalavreável, embora palpável, num suspiro último que só nasceu pra ser um tiquinho mais perto de todos vocês: gruda n'alma.

4.7.13

XIM

Falo de um felino torto,
        era pra ser quadrúpede,
mas nasceu de cinco patas,         

         era pra ser uma trupe,
 mas virou uma gemada.


          Perdeu o equilibrio do rabo,
                 perdeu também seu motorzinho,
                      Agora está com 3 patinhas, apenas.
                                                                           
                                                                                                Mas de pé! Em riste! Manteve-se.


                           No princípio era só o ventre, era só a mãe.
                                                 Depois veio mais 3.
                                           O Zé, a Zefa, a Quitéria e o Xim.
                                                      O Zé virou Zefa,
                                                    A Maria virou Mario.
                                                                                              Foi-se pro vizinho e nunca mais voltou.



                                   Agora o mais tímido, o da patinha manca.

                               Se esfrega como que se fosse do lar há anos.
                                Como se tivesse nascido ali.
                                Como se fosse sua cama quente, o aconchego de sempre.


          Aprendeu o carinho! Crê?
           Aprendeu a carinhar.


                                 E a carência.

2.7.13

interrompemos nossa programação

boreal:
palavra que não precisa de objeto para reproduzir exatamente o que a degustação léxica realiza aqui.
Livre de qualquer significa-do-nte, a fonética leva exatamente ao mesmo lugar rouba-cor que a análise semiótica levaria, se não fosse insignificante perante o simples soar b-o-r-e-a-l da sílabas em qualquer lábio brasileiro.

voltemos agora a nossa programação habitual.

22.6.13










estão esperando aparecer na tv
seus rostos nas ruas
os ratos na praça
a graça se foi e hoje como belchior tenho medo

estou cansado de não poder falar palavra
me resta uma calça esburacada num viaduto
das 9 às 18 Adhemar
comovãoascoisas menino?

tem um cigarro?

tenho muito mais de 37 beijos pra quando você voltar querida
me dê a mão hoje o sol não sairá
não passearemos por aí com as outras pessoas e eletri-cidade
estaremos aqui sentados num gramado olhando por cima da hipocrisia
e me perguntará como urubus podem plainar sobre nós
responderei que fiz física há muito tempo atrás

bomdia Seu Zulmiro!
bomdiameninoaquitámaisquentenesseinverno
tôeu+anegavoltando pra caruaru

não são só 12 andares

10.5.13

Dalí, Monalisa e Dez Decímetros Quadrados

tanto faz se etéreo, estéreo
a histeria calada toma conta
da sala
esquerda, direita, centro e janela
eles saem voando, flutuando
e fluindo-se ao vento como
silfos
aéreos, amarelos e de sorrisos com bigode
eles degustam as cores do som
estremunham-se nas linhas quadradas
dez
caminham periculosos, delinquentes
indecentes
pintam chuvas de Shiva, de gatas-guaxinins
e contornam-se num abraço apertado
dado
agradado
fazendo tecer sob o sol da árvore linhas torcidas
num nó marinheiro que nunca e jamais
dissolveria-se no ácido ofídico
e
saltam do quadro ao lado, pisam no musgoverde
caem
e rolam
e riem
e tornam a sair voando pela janela
lateral

27.4.13

o urro do urso polar vindo do planeta Eternoutono OU Eduardo

Sussurra
urra ternura
forte e'maranhado
intrigado e da-do
espalma e'xpele
pra fora o delírio
da pele grudada
gostosa
gritada e con-
 tida
exala o ardor
despudor
e
tímido
com a fala risonha
de olhos fechados
t-r-a-n-s-c-e-n-d-e
e procura
algum tecido de seda
perdidembrulhado
'nalguma parte do corpo
etéreo
que vibra e jorra
aflora.

16.4.13

tango

revolto e solto:
f      l     u    t   u  a
estranhamente ao corpo inerte
a alma se atira e bebe
todo o éter a sua frente
d e  m    e    n     t      e

passa perna toque intenso
tira os braços gira tempo
torce as costas olhos nus
peito aberto a mão conduz
e para.

um
ú n  i   c    o
avança balança
pende insólito gentil
quente lânguido febril
a cruzar dedos em carmim
cabelos presos aos pássaros
gesto e som e cheiro e luz
magníficos
m         a       g       n      í     f     i    c   o  s

rasteja peleja e grita
a voz que não cabe na garganta
sente encolhe vibra pulsa
foge
corre
escorre
sofre
a procura da boca
de uma
de um

Gardel.


15.4.13

hoje não deu pra ele pensar no pivete sem comida
porque ele tava na hidromassagem do flat

hoje não deu pra ele pensar no pivete sem moradia
porque ele tava num navio de luxo fazendo cruzeiro maritimo

hoje não deu pra ele pensar no pivete sem escola
porque ele tava à 300km/h tirando racha com sua ferrari

hoje não deu pra ele pensar no pivete sem brinquedo
porque ele tava torrando dinheiro no cassino do pai

hoje não deu pra ele pensar no pivete sem infância
porque o pivete estourou o cérebro dele com uma MICRO UZI 1250 tiros por minuto


[Eduardo, Facção Central - Direto do Campo de Extermínio, durante show em 2005]


"EXTRA! EXTRA! Chico Buarque é  artista mais votado de uma enquete feita na internet que perguntava aos internautas qual o artista que eles mais gostariam de ver na Virada Cultural de São Paulo, mesmo com uma oferta de remuneração maior do que é oferecido a outros artistas o cantor se recusa a fazer o show."




12.4.13

A Luneta da GaGa

Eu, que sou um fruto ignorante das telenovelas,
vomitada de um poço seco das entranhas da minha terra,
despercebida, retorço a minha arte, me desentendendo
sei que só postumamente brilharei nas passarelas
------------------------ do arrependimento humano,

Eu, retorcida num saco de estrume, viajarei,
dentro de navios negreiros, e de belos cruzeiros,
serei aplaudida por magnatas, por críticos, por bixas como eu
------------------------ inrrustidas em sua vergonha alheia.

Eu, que e revelei a autenticamente nua.
Que me descobri unicamente podre.
Que aguentei chacotas, que gargalhei junto aos molestadores.
Que bebi do vinho e da chanpagne de um coquetel artístico barato
que expunha ensaios fotográficos das índias tapanaiés,
 em suas lindas ausências de trajes
 -------------------------- a última moda!

Eu, que vomitei no fim da festa, que voltei pra pensão desamparada,
que me arrependi e voltei a me arrepender no dia seguinte,
Que solucei sem ter lágrimas, que clamei desgosto pelo mundo!
Eu, que não aguento ouvir minha própria voz, que fujo dos fantasmas do meu silêncio.

Eu, que sempre precisei de atenção,
Eu, que sempre fui  e sempre acabarei sendo
a alegria da festa.

Nos entulhos suburbanos da babilópole em ascenção rumo ao nada,
resgato, reciclo e reutilizo a luneta da GaGa!

Ela que me dá o olhar de um capitão, e o turbilhão de mil pensamentos,
a percepção de quem vê por baixo: por de baixo das saias!

Senhor@s, em breve o mais no blog: A LUNETA DA GAGA!
http://lunetadagaga.blogspot.com.br/

o que deveria ser almoço sexta-feira interrompida pelas canções de amor da Liberdade




ali onde o primeiro beijo aconteceu
acendo um cigarro e abro uma cerveja
ao meu lado anciões niponicos cantam em unissono um refrão de luiz gonzaga
a intimidade com a terra que nunca tive
hoje obrigados a viver em caixas de concreto no bairro da Liberdade

choram a dor de deixar o que lhes parecia seu
eu a dor dos amores que invento
das dores ilusórias
e nas minhas costas as marcas do que me parece um grande fingimento

peço um isqueiro e a moça me oferece um sorriso em brasas
a estranha sensação de que não sou daqui
me leva embora das canções de amor

Pergunto em frente a uma estatua de Buda
Onde andará Kalishnikov?

meu coração o buraco no viaduto Dona Paulina se desconstrói
assim como o teto sem estrelas da travesti viciado em pedra

aperto o 12 um botão dentro da clausura de metal que me eleva
e a vida se esvai em papéis sem importância e a tela de um computador
a sensação muda

eu não deveria estar aqui

14.3.13

mais valia

CUSPO
crispa vara-fundo
escremento, ardendo
demente estado
farsa afobada
exasperada
viciada

social-psico-trauma-tismo
craniano?
crosta de quê?
proteção do quê?
dos miolos (moles) do ser
humano?
HUMANO?
Imundo.
mini-pensamentos
mesmo obcenos
nunca pensam direito
ou esquerdo
mais além

talvez
lá longe
nuance de luz
reflexo?
refratado mas atado
atos-luz
(outro mini-pensamento
sem qualquer discernimento)
que esvaem ao pôr do sol
a espera da escuridão
a qual todos os seres estão fadados
mas ainda, inebria-se com os raios solares
que, sabe-se, ali estão pra aliviar
os miolos que insistem em funcionar
trabalhar
a troco de nada:
mais valia


ATÉ
o pobre miolo que insiste
em pensar pra um ser
que não usa todo trabalho
do miserável miolo
para permanecer na inércia da vida
no eterno retorno
no nada
e
x
i
s
t
e
n
c
i
a
l

11.3.13

aresta: cúbica - ensaio primeiro


a versão do caos sobre a serenidade
é certeza tranquila de fúria e fogos

a versão da árvore sobre o machado
é certa a paz do fim do ciclo
contra o prenúncio de eterno retorno

a versão do rato de Skinner
é um deus que o usa para fins
sacros
sagrado
como tudo o que
de tão profano e intangível
torna Rosana na alturas
além
do âmago:
o vômito

a versão de Mallarmé
para bailarina que não dança
da mulher que não tem corpo
é o inverso do verso da poesia
é tanto contrário
tanto sem medida
(em si, já, é absurdo!)

a versão do inverso do avesso
de dentro da casca, da seiva, do caule
é entregar à luz um novo membro
é o sangue que jorra ao mundo
não é o corte ruim,
mas o único meio de dar à terra
o todo
eternamente

16.2.13

R1ßøNµKL&i©O

ultra-sordidamente-estático,
supos, somente supos, que era único,
- escorrendo, em feixes incandescentes da pluraridade
recorrente em sujeitos simples-pós-contemporanilóides de temperamento óbvio

séptico
oco
furunculo-
homúnculo

reparou que o tempo de pagar o aluguel era mensal, 
a fome, a sede, a rede, o corpo, o humor, e a noite eram quase diários
só o beijo, a felicidade, a insanidade, o conhecimento e aquela estranha necesidade
 de ter sempre com os da mesma 
espécime-humana-batráquia
algo a que, pelo que, a fim de que, 

- é que nao conseguia encontrar

rótulo,
módulo,
ritmo
frequencia løgica alguma
inside sobre estes tais
hominídeos.
>-

6.1.13

sobre o nome III

derramado:
o tempo de escorrer
tanto sangue-champanhe
é mais demorado na terra
dos que não usam relógio

boca numa boca
que nunca ali esteve
não com a intensidade
mortificada
daquela que de tão ela
assusta-se sozinha

boca numa boca
que um dia esteve
tão natualmente
aberta
escancarada
de rabo e dentes descobertos
e, teme-se, na mesma intensidade
daquela que escondia o gênero
dele: vestia-se

boca numa boca
que talvez não estivesse colada no rosto
lutara enquanto o caos sexual invadia
narinas, pernas, útero, coração:
coração
dela
que sabe, o último suspiro de gozo
é a morte

e agoniza.