24.9.14

as pernas da cadeira

Cruzo cruzamentos ruas cruzes cemitérios vivos e mortos arrasto passo escondo e pulo
batidas estupros leis reintegração sem posse tosse poder escorre dilui sem água
arranca descama frita corre acerta anula toma arranha manha puta mini-saia
assalta treme expulsa desnuda se vira ali na ponte esfola cede sede
luta alguém ninguém sem rosto sem olhos sem beat, onde?
re-s-piro
caos social marginal ancestral visceral
(janela)
lateral-co
efeito

foda-se o escracho despacho escasso fardados e mutilados
prédios arranha-céus casa falos concreto indiscreto decrépito
ainda miro a fresta do único ponto em que o Sol entra
enfrenta adentra concentra isenta INOCENTA

e tá Raparae
tá tinindo
tá trincando
ainda há sim
há tanto
há muito
há gente
a gente.

10.9.14

Episótemo #766


Foi na estação do metrô Butantã que Estela não pode deixar de observar: um grupo de mais ou menos 40 loiros e loiras com camisetas azul marinho contendo as siglas SGH. Seus integrantes discutiam sabe-se la o que, com seus 1,95 de altura, shorts acima do joelho e Iphones na mão.

Ela ficou chocada com a situação, pareciam alienígenas que acabaram de descer em um planeta de terceiro mundo. Quando passou por perto constatou: o sotaque era alemão, talvez austríacos. Vai saber!

Os Sschoeling Gasnrtrundjovenhageenjurt Habbsburgh (Grupo da Juventude Protestante NeoPentecostal Solidária de Habsburgo), como assim ela os denominou mentalmente, estavam atônitos olhando para o fim do corredor. Seus olhos perseguiam alguma coisa interessante que vinha em sua direção.

Ao passar pelo bloqueio do metrô percebeu a quem os jovens arianos de pelos genitais da cor da palha vislumbravam sem nenhuma vergonha ou disfarce: Uma linda e voluptuosa mulher negra, com um manto manchado da cor marrom-bege, que lhe descia e cobria seu corpo todo, sem deixar-lhe de dar belas formas, Seu corpo bem dotado em todos os aspectos que dançava como ondas no mar naquele vestido, passou por entre eles, que por sua vez acompanhavam a gracejosa figura com olhares atônitos.

Para Estela, essa cena resumia muito bem quem somos e aonde estamos.

Teve vontade de chorar.

3.9.14

Jet Lagged

Jet Lagged

Viajar para que e para onde,
se a gente se torna mais infeliz
quando retorna?
Infeliz e vazio, situações
e lugares desaparecidos no ralo,
ruas e rios confundidos, muralhas, capelas,
panóplias, paisagens, quadros,
duties free shoppings...

Grande pássaro de rota internacional sugado
pelas turbinas do jato.

E ponte, funicular, teleférico, catacumbas 
do clube do vinho, sorbets, jerez, scanners,
hidrantes, magasin d'images et de signes,
seven types of ambiguity, todas as coisas
perdem as vírgulas que as separam
explode-implode um vagão lotado de conectivos
céu violeta genciana refletido
na agulha do arranha-céu de vidro

Mas ficar para que e para onde,
se não há remédio, xarope ou elixir,
se o pé não encontra chão onde pousar
embora calçado no topatudo inglês
do Dr. Martens

(Wally Salomão)