atravessar o vale um dia
para encontrar-me
com a insensata parte de mim
que me abandonou há muito
face a face questioná-la
onde esteve
quando da parte que ficou
à deriva no oceano de madrugada sem fim
chafurdando no barro das memórias de enxofre insolúvel
para de lá retirar o substrato espesso
que nutre a solidão das tardes sem sentido
quando entre mortos e putas
passei
indiferente e sem ser notado
como um cão entre as flores e a primavera
onde esteve
quando ofuscado pelo sol e calado por leões
sentindo diminuído pela distância das paredes deste aquário
rodando em círculos
buscando receitas de alquimia
que transmute tristeza em coragem
para encontrar os padrões geométricos
que disfarçassem os buracos inexatos da minha existência
por fim encontrar os cacos de mim
depois de transcender e abandonar tudo que é inteiro
https://www.youtube.com/watch?v=5Bm9F3GFnik