1.9.15

AMBULANTES

eu vim de pernambuco
senegal
moro no pantanal
vendo tudo
o que me entregam são moedas
por dó ou necessidade
foda-se
não me iludo
troca as moedas com o china
meu carrinho
a polícia
desatina
sou do mundo
mas o mundo não é meu
só não vendo história
porque a história
sou eu

Um domingo imaginado na cabeça do outro: A mentira

 Acordo om o aroma de café, depois de  uma noite de intensos carinhos. Vesti uma camiseta por cima de meu corpo nu, segui o aroma que me levou à cozinha, no caminho as questões surgiram:
Porque ele acordou tão cedo?
Porque está menos cansado do que eu?
Talvez fosse esse falso valor que ele dava ao trabalho, apesar de sempre dizer - que ninguém deveria trabalhar; ao mesmo tempo me dizia - que o trabalho mudava as pessoas para melhor; e melhor sempre tratou quem trabalhava independente da opinião.
Na cozinha o encontrei, encostado no batente da porta que dava para o quintal, o sol entrava passando em diagonal, cortando num halo seu rosto pela metade, um cigarro em suas mãos, o café no coador de pano sendo fundido com a água fervente, seus olhos sempre baixos, sem bom dia disse:
- Onde estão as xícaras?
Aquela ignorância fazia parte do que o tornava apaixonante, as xícaras dentro da cuba, não respondi, e me encostei na pia começando a lavar as xícaras. Como por teletransporte, ele estava atrás de mim, sentia todo seu corpo quente empurrando-me contra a pia, antes que pudesse reclamar, suas mãos geladas entraram por dentro da camiseta, a única coisa que vestia naquele instante, quis reclamar tamanha intimidade, aquela invasão sobre meu corpo, mas só pude emitir um suspiro, pois seus lábios já tocavam minha nuca e seu membro já infligia a umidade em mim. Disse-lhe: - Você é um tarado! Ele respondeu: - Sou !

Ali mesmo pude ver todas as cores, as que tem nome e as que ainda não pude nomear.



...



bebemos nosso café
o meu com leite
o dele puro
um disco na vitrola
de música que não existe
um beijo
a rega no jardim



"sim, deve haver o perdão para mim, senão não há de haver um futuro para mim"

Quando é mais do que se pode

tudo estava
lua cheia
eu me apoiei
nela
e ela em nada

a pedra roosa em meu peito
tentei arrancar
mas meu peito era rosa
ou pedra-falhei

um caminhão vermelho
o mendigo louco no eixos
outro bar
algum super-poder
da cartola uma canção tirou

um tiro na têmpora
desejei
as linhas caminhavam tortas
porque tão certa?

tenho a megera esperança
do teu abandono
saltar para o nada
só pra ver qual é a do abismo que me chama